Imagens, palavras, sonhos, expressões, arte... A fotografia e o Vale do Jequitinhonha, partes essenciais da minha sensibilidade...
Porque sonhos, mesmo que ainda não realizados, sempre
existirão; eu tenho um que espero um dia realizar, está guardado nos meus
melhores pensamentos, numa vontade gigante de um dia conseguir expressar de
forma completa através da junção entre imagens e palavras, a mistura de
sentimentos e angústias que dentro de mim sempre carregarei.
Porque sou de muitos amores e encantos; porque vivo a vida
com a arte entranhada na minha existência. Olho para trás e uma das minhas
melhores paixões é a fotografia, parte substancial da minha realidade, ainda
que não atualmente praticada. Um belo dia ganhei de presente da vida a
oportunidade de mergulhar numa região encantadora carregando comigo uma máquina
fotográfica, muitos filmes e um coração livre. As melhores em preto e branco,
porque sempre enxerguei assim, porque assim aprendi a reconhecer o mundo e
mergulhar na sua sensibilidade. O Vale do Jequitinhonha foi um presente.... com
ele, imagens e textos, leves, profundos, apaixonantes. Um artesanato que me
mostrou que riqueza não tem preço, muitas vezes é inclusive analfabeta; sim,
você não precisa saber escrever para ser um artista.
Meu sonho!? Um dia voltar, ainda mais me aprofundar, estudar
e escrever um livro, conjugando imagens e palavras, e descrevendo o que eles me
fizeram sentir e que comigo carregarei para sempre.
Esta foto acompanhada por partes deste texto um dia virou um
presente especial, num passado que sempre será inesquecível, porque me fez
ainda mais sensível. Com ela, carregarei para o futuro a vontade de me
expressar através da arte. Isso eu também aprendi com os artesãos.
A história desta foto é bastante interessante. Íamos devagar
pela rua principal de uma das regiões mais pobres de Araçuaí. Cada um ao seu
passo, calado, buscando em seu interior toda a inspiração possível, encontrada
num momento de pura comunhão entre a alma e o ambiente ao redor, para
impressionar a película fotográfica com arte mas sem deixar de retratar o que
viam nossos olhos. Algo no meu coração gritou no momento em que passava em
frente a esta rua, olhei para ela e não vi nada, mas ficou o pressentimento que
daí poderia saltar aos meus olhos uma fotografia. Parei e fiquei a fitar
profundamente a pequena ruazinha. Foi quando de repente surgiu aos meus olhos
no fim da rua, distante física e espiritualmente, um homem, um típico
representante da região pobre e miserável do Vale do Jequitinhonha. Nesse
momento caiu a máscara da riqueza material e ficou no coração uma vontade de
cuidar desta pessoa, que provavelmente muita fome já passou nesta vida. Não
tive dúvidas, imediatamente fiz a foto e a única coisa que me vinha a cabeça
era a necessidade de que a imagem impressa no filme fosse expressiva e significativa,
para que eu sempre pudesse admirá-la em busca de uma vida simples, despida de
toda e qualquer riqueza material, e de uma profunda riqueza espiritual e
intelectual. O que vale é o que carregamos dentro da gente e isto não tem
dinheiro no mundo que compre, nós é que conquistamos à medida que amamos e
somos amados.
Araçuaí, Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais, Brasil. Fevereiro/2004. Nikon E80, filme TriX ISO 400.
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