Meia-maratona da Cidade do Rio de Janeiro 2016, força, foco, fé, parceria e amizade!

As vezes num piscar de olhos, quando você menos espera, você cruza com pessoas especiais que mesmo sem saber ou perceber, transformam o seu caminho, te ajudam a ser forte e conquistar feitos que fazem toda a diferença na sua vida!

E assim.... eu posso definir o dia 29/maio/2016, dia de mais uma prova, desta vez Meia-maratona da Cidade do Rio de Janeiro. Mais uma para conta, a 12a, a melhor de todas, a mais forte, onde prevaleceu força, foco e fé. Corri a prova inteira com uma frase na cabeça, “jamais subestime a sua capacidade”, dita na véspera pela nutricionista, Dra. Carla Bogea, que me ajudou a chegar no peso perfeito. Neste dia fez total diferença estar carregando bem menos peso do que em qualquer outra prova que tenha feito até agora na minha vida. O corpo leve te ajuda a manter o ritmo durante mais tempo. A meta ousada era fazer entre 1:45 e 1:50; a chefa e eu colocamos um intervalo, mas o tempo inteiro das últimas semanas disse para mim que tentaria ficar próxima de 1h45. Minha corrida mudou completamente de abril para cá, meu corpo vinha respondendo aos treinos de uma maneira perfeita, passadas leves, ritmo forte, mente concentrada em manter a força cada vez por mais tempo. Minha postura e mecânica também mudaram; consegui melhorar a amplitude da passada e a postura do tronco. Sei que ainda há muito a evoluir e percebo que cabe mais evolução. Aos poucos vamos construindo o atleta que existe dentro de nós e na hora que tem que ser ele se revela; hoje, definitivamente, me considero atleta.
A meia maratona do Rio de Janeiro começou na semana seguinte da prova alvo do 1o semestre, o Long Distance TriHard Caiobá (distância de 70.3 milhas, isto é, meio ironman), que aconteceu no dia 17/abril. O ciclo de treinamento para a primeira prova nesta distância cansou muito o corpo, a prova dura preparou a cabeça para suportar a dor e as diversidades por um tempo mais longo e me ensinou caminhos para controlar a ansiedade, tanto durante a preparação quanto na própria prova. Após esta prova, por alterações de calendário, 3 semanas depois, 08/maio, foi a 2a Etapa do Campeonato Estadual de Triathlon da FTERJ que fiz na distância olímpica (1500m natação + 40km ciclismo + 10km corrida). Melhorei meu tempo em 14’, meu ciclismo foi excelente, mas a corrida fez a diferença; e essa prova me fez ganhar confiança para as 3 semanas seguintes de treino rumo a última prova do semestre e que definitivamente nunca foi nosso alvo no calendário.  Falei com a Sole, sem pressão, vamos fazer a meia maratona do Rio de Janeiro na brincadeira; e ela definitivamente não acreditou, acho que já me conhece.
Foram 3 semanas de treino com volume de ciclismo reduzido e mais concentrado em fazer longos de corrida nos fins de semana. Foram dois treinos longos, o primeiro puxada pelo amigo de equipe Leonardo Cianella que me ajudou a manter um ritmo muito bacana que me deu total confiança; e o segundo uma semana antes da prova, não tão longo, mas com distância e ritmo perfeitos, tudo dentro do planejamento do tempo que buscaríamos.

Mas o meu objetivo para este dia não era apenas fazer meu melhor tempo na distância de 21.0975 km. Durante um treino regenerativo em pleno feriado no começo do ano (acho que foi na Semana Santa) numa conversa com a Andreia, combinamos que eu iria acompanhá-la nos 10km finais da Maratona do Rio de Janeiro. Não me lembro exatamente como isso foi definido por nós. Só sei que deste dia em diante, antes mesmo do 70.3 de Caiobá, guardei para mim e ao longo dos meses também foi incentivo para me entregar aos treinos com disciplina. Desta forma,  não podia me esquecer jamais, que este domingo, 29/05, não seria apenas meu; seriam 2 provas, minha melhor meia-maratona e os 10km finais da maratona dela, ambas com o mesmo nível de importância para mim. Eu levei muito a sério a história de ser pacer dela. O tempo tratou de me mostrar (me considero também abençoada por Deus), que eu não seria apenas pacer dela, mas que desta aventura surgiria uma amizade especial. Pois é, de forma leve e tranquila nossa amizade foi se fortalecendo e ela se fez presente na minha vida com palavras sábias e fortes que me ajudaram a evoluir não somente como atleta, mas também como pessoa. Nas semanas que antecederam a prova criei muita expectativa da missão que tinha pela frente, mas não deixei que isso fosse negativo, pelo contrário, acabou transformando na força que precisava para cuidadosamente executar os treinos da planilha. Como disse a ela ao final da prova, você me ajudou a fazer a melhor prova da minha vida.

                     Na chegada, ela ainda conseguiu uma medalha para mim. Foram 2 provas, 31km em 2h49min; no fundo, um treino longão de luxo.

Mas esse dia especial ainda me reservava uma nova surpresa. Pois é.... Eu sou mesmo sortuda. Uns dias antes, recebi uma mensagem de outra amiga da equipe, a Fernanda Pires perguntando para quanto de ritmo eu pensava em fazer minha ½ maratona. Na hora fiquei meio preocupada, mas decidi relaxar e ver no que ia dar. “Fê, a ideia é fazer o mais próximo possível de 1h45, então planejei em sair para 5’05’’/km e ir baixando, até considerando que logo nos primeiros kms teremos duas subidas; finalizei dizendo que também queria correr abaixo de 5’ por um trecho grande, mas que isso seria decidido ao longo do percurso”. Ela consultou o chefe e perguntou se podia me acompanhar. Uau.... pensei comigo, isso não vai dar certo, ela tem o dobro de pernas que eu; vou estragar minha prova e a dela também. Eu me cobro ao extremo em busca do melhor que eu possa dar em tudo que me comprometo, então sabia que seria uma luta interna para fazer o corpo suportar a dor por o maior tempo possível e atingir a meta ou ao menos me aproximar dela. Só que eu também não consigo dizer não e a Fernanda tem sido uma grata surpresa, me super incentiva há bastante tempo e foi torcida essencial e motivadora na última prova do Rio Triathlon. Então resolvi encarar mais esse desafio. Ela estava fazendo sua terceira ½ maratona; posso até estar equivocada, mas percebi que esperava de mim uma parceria afinada que a ajudasse a encaixar uma boa performance; e definitivamente, no começo tive bastante receio. No entanto, foi incrível, não sei se porque ela é uma pessoa super do bem e humilde, ou se de fato eu estava muito preparada física e mentalmente para ser forte e sofrer qualquer adversidade que nos apresentasse. Acho que foi uma mistura perfeita entre esses dois fatores. Saímos forte e tenho certeza absoluta que ela foi essencial para o ritmo que ditei do começo ao fim. Encaramos as subidas com força, descemos voando, foram vários kms abaixo de 5’. Em Copacabana apertei o passo e achei que ela não fosse manter o ritmo, e ela forte seguiu um pouco atrás, mas ali comigo o tempo inteiro. Saímos de Copacabana e cheguei a pensar que conseguiríamos fazer abaixo de 1h45, mas não conseguimos manter o ritmo. No final, para mim faltaram pernas nos 300m finais e eu não podia me esquecer que ainda tinha 10km para correr ao lado da Andreia. Cruzamos a linha de chegada, Fernanda e eu, e vivi ao lado dela uma emoção sem tamanho, um abraço verdadeiro, sorrisos, choros e uma cumplicidade que nos manterá amigas para sempre. É, acho que as amizades se forjam exatamente naqueles momentos em que a pessoa ao nosso lado se transforma em parte essencial das nossas conquistas. E ela sempre será lembrada pela melhor ½ maratona da minha vida, mesmo que eu ainda melhore este tempo ao longo de novos desafios que com certeza ainda surgirão pelo caminho. Ah sim... melhorei meu tempo de ½ maratona em 7 min.

               Emocionadas..... Ela me agradecia e eu também. Tenho certeza que ela foi essencial para eu conseguir fazer no ritmo que havia planejado.


                     E nossa chegada ficou registrada pela organização. O vídeo mostra exatamente o que foi a prova do primeiro ao último km. Força, foco, fé e muita amizade.

Não podia me esquecer, ainda faltava a segunda prova do dia. Entreguei minha prova e fui me preparar para acompanhar a Andreia. Descansei, conversa motivadora com a Sole e o Renato na tenda, suplementação e alimentação, troquei tênis e meia e peguei um Uber para Ipanema, exatamente para o local onde combinamos, a placa do km 32. As pernas pesadas, cansadas e doloridas me preocupavam; a mistura do suplemento com a alimentação não me caiu bem, tinha enjoo e dores abdominais. A roupa molhada me dava frio. Cheguei em Ipanema por volta de 9:30 e pude acompanhar a maratona de fora; por sinal, num ângulo que me mostrou o gigantismo de uma prova de 42km de corrida. Vi amigos atletas que buscavam tempos fortes e uma massa de gente que vinha para 4h, 4h10, 4h15. Incentivar conhecidos e anônimos foi aquecendo meu corpo e coração. Pedi a Deus que me desse força física e mental para ajudar a Andreia; estava com medo de não conseguir. Ver a expressão física e facial dos atletas no trecho que já somos dominados pela dor e sofrimento só foi me fortalecendo. E de repente ela surge de longe e quando me vê cai num choro que me emocionou por inteira e me confirmou a decisão assertiva de acompanhá-la. Percebi que a emoção transporia qualquer dor e que ao final ficaria apenas uma linda história de superação e vitória que vou guardar para sempre. Comecei a correr e doía tudo. Devagar o ritmo encaixou e as dores melhoraram. Em Copacabana, novas dores, ela também sofria, e bateu um certo pânico/medo. Eu não sabia mais se aguentaria, precisava lidar com os desconfortos do meu corpo. Comecei a pensar na corrida do meio ironman em Caiobá, onde sofri no começo e me superei de uma maneira muito legal. Mas como não estamos sozinhos, ao final de Copacabana as companheiras de equipe surgiram festivamente e nos deram um gás a mais. Passamos pelo túnel e na hora certa, novos amigos festeiros; uma alegria sem tamanho que parece te carregar no colo. Então comecei a mentalizar como deve ser correr 42km depois de pedalar 180km e me transportei para Florianópolis. Vi os amigos, o pórtico de chegada e a expressão, you're an ironman. Me vi realizando um sonho e cruzando a linha de chegada que mais desejo atualmente. Surge a Sole e a festa dos amigos de corrida; essa festa é um dos motivos que faz a ½ e Maratona do Rio de Janeiro serem muito especiais. Deixei ela ir na frente, merecia cruzar aquela linha carregando sua história de superação e vitória. Eu também queria cruzar a minha 2a linha de chegada. Acelerei e quando cheguei nela, de joelhos, emocionada, chorava, me abraçava e agradecia, uma cena que se eu viver 200 anos jamais me esquecerei. E no fundo, eu é que devo um agradecimento ainda maior, pela oportunidade de ser pacer num dia emocionante e inesquecível.


      Essa foto representa exatamente o que vivemos em equipe ao longo de toda a semana pré-prova e depois a vibe ao longo dela. Porque juntos somos muito mais fortes!



             Na chegada, já no Aterro do Flamengo, na área das assessorias, uma festa e alegria que ficarão guardados para sempre, do lado esquerdo do peito.

29/05/2016 ficará marcado como um dos momentos mais inesquecíveis que vivi no esporte; mais um para a minha coleção que aumenta a medida que eu me entrego com disciplina na grande aventura que é ser atleta. Será um dia sempre especial em homenagem ao que de fato nos sustenta como seres humanos, a amizade!

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