Para começar, fotografia.

Vou começar este blog com um assunto que me inspira, que por alguns anos dominou minha vida de uma maneira intrigante, mas que teve que adormecer, para que uma outra Juliany pudesse se revelar. Eu diria que a fotografia me transformou e nada melhor do que homenageá-la nesta primeira postagem. Os olhos d'alma brilharam por muito tempo, sempre em busca do melhor ângulo e com criatividade, tentando despertar novos olhares. Ele não se apagou, só descansou, para um dia poder retornar com o mesmo vigor.
E a estréia será com uma bela poesia, minha homenagem a fotografia, que eu descobri por causa da minha atividade científica em um laboratório de pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Como o intuito deste blog é falar da vida, dos assuntos que me movem diariamente, nada melhor que colocar a fotografia ao lado da minha principal atividade de vida, a Ciência e o Ensino.

O fotógrafo (Manoel de Barros)

"Difícil fotografar o silêncio.
Entretanto tentei. Eu conto:
Madrugada a minha aldeia estava morta
Não se ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas
Eu estava saindo de uma festa
Eram quase quatro da manhã
Ia o Silêncio pela rua carregando um bêbado
Preparei minha máquina
O Silêncio era um carregador?
Fotografei esse carregador
Tive outras visões naquela madrugada
Preparei minha máquina de novo
Tinha um perfume de jasmim num beiral de um sobrado
Fotografei o perfume
Vi uma lesma pregada mais na existência do que na pedra
Fotografei a existência dela
Vi ainda azul-perdão no olho de um mendigo
Fotografei o perdão
Vi uma paisagem velha a desabar sobre uma casa
Fotografei o sobre
Foi difícil fotografar o sobre
Por fim cheguei a Nuvem de calça
Representou para mim que ela andava na aldeia de braços com Maiakovski - seu criador
Fotografei a Nuvem de calça e o poeta
Ninguém outro poeta no mundo faria uma roupa mais justa para cobrir sua noiva
A foto saiu legal."





Uma das minhas fotos prediletas, feita durante viagem ao Vale do Jequitinhonha em fevereiro de 2004. A história desta fotografia tem tudo a ver com a poesia de Manoel de Barros. Para esta foto há muito tempo atrás escrevi um texto, que um dia ainda postarei por aqui. Equipamento usado na época: Nikon E80, analógica, usando filme preto & branco, objetiva de 80 mm. 

Acho que está na hora de voltar a fazer arte e fotografia...

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