Solidão existencial…



Olho para mim mesma, o que vivi até hoje, o caminho percorrido, as escolhas feitas. Decisões tomadas, erros cometidos, acertos em alguns momentos. Desgastes pessoais e profissionais; tristezas, decepções que provoquei e senti. As oportunidades de construir uma carreira no exterior, a decisão de fazê-la no Brasil. As relações familiares, o que me fez ficar no Brasil, o relacionamento que deu errado, os envolvimentos pessoais, o amor que era para ser eterno, minha relação com o esporte, a arte, os livros, com tudo e todos. A maneira como me aprofundo em tudo que coloco as mãos.  Olho para o passado e descubra uma mistura assustadora de sucesso e fracassos, olho para o presente, e meu olhar fica turvo. Não enxergo o sucesso e suas realizações, nem tampouco tudo que deu errado. E assim sigo meu caminho diário, em busca de resposta para uma pergunta complexa que me persegue no mais profundo da minha existência: QUAL A MINHA MISSÃO NESTE MUNDO? Essa pergunta vem acompanhada de um reflexão profunda sobre a SOLIDÃO EXISTENCIAL. Ah… cada dia mais vou aprendendo a encontrar com meu eu exatamente neste processo de mergulhar na solidão da minha existência.

Me pergunto o que é de fato solidão existencial e como conviver com o fato de que muitas vezes você está cercado de gente e afazeres, mas ao mesmo tempo está completamente sozinho com você, suas angústias, pensamentos e questionamentos. E meu, minha missão no mundo? Tenho 39 anos, fiz mestrado, doutorado, morei na Europa e nos Estados Unidos, hoje oriento vários alunos, já formei minha primeira doutora, mestres e bacharéis, tenho uma turma de primeiro período de 60 alunos, uma família, dois afilhados lindos, mais uma sobrinha a caminho, pais que precisam de mim, em alguns meses farei 7 anos de docente na UFRJ e 10 anos de tese de doutorado defendida; por anos a fio abracei um projeto que não deu certo na minha concepção (não fui competente o suficiente para vencer o sistema). E no fundo, verdadeiramente, ainda não tenho certeza de qual seja minha missão. Já li alguns autores existencialistas como Albert Camus e Jean-Paul Sartre, entre outros, mais de um livro por sinal, mas ainda assim não sou capaz de me entender em plenitude e com isso me encontrar no mundo. É talvez seja um extraterrestre. 
E é justamente nesta real falta de explicação e convicção de quem sou e qual meu lugar no mundo é que acabei encontrando o esporte, primeiro a corrida, agora a junção de 3 modalidades que aos poucos vão compondo minha existência. Nadar, pedalar, correr, em sincronia com meus loucos pensamentos, acabam me permitindo encontrar com aquela que achei que talvez nunca existisse. Aquela mulher forte e segura que existia exclusivamente no plano dos sonhos, capaz de realizar façanhas jamais imaginadas. 

Se eu pudesse mesmo, agora, maio de 2016, pegava uma mochila e ia viajar um mês inteiro, só comigo, um caderno e uma caneta… Queria me isolar, não ter com quem falar, silêncio profundo… Queria cruzar com pessoas que nunca me viram, que não sabem meu nome, nem minha profissão, com pessoas que com certeza não me pedirão nada, nem a minha opinião. E que na certa comigo irão interagir, não pela história que carrego em mim e que foi construída também pela interação com o sistema, mas pelo que ali demonstrarei em alguns poucos minutos de conversa. Acho que é exatamente disso que eu preciso… 


E assim seguirei, até o final, neste questionamento incansável e infinito de quem sou e qual o meu real papel no mundo… cada um tem o seu.

Comentários

  1. Ah Ju...acho que faz parte da mente humana pensar sempre naquilo que perdeu. Mas quer saber...tudo da certo. Dá certo por pouco ou por muito tempo. Tive a grande oportunidade de conviver com você no inicio de sua carreira cienífica. Você sempre foi brilhante e intensa. Em um ambiente de excelência e com uma cobrança máxima, quem está um pouco abaixo da linha de corte se sente péssimo. Nada disso...há outros ares, outros olhares e é preciso respeitar. Tive que desistir antes do doutorado...entrei pelas portas que se abriram. Por anos e anos guardei pilhas e pilhas de papers. Um belo dia descartei, não voltaria mais para este caminho. Nada de pensar como teria sido...quem vai saber? Hoje o que me faz feliz é o simples, a natureza. Tenho uma casinha em uma area de preservação ambiental sustentável...comprei sem luz. Lá não pega celular, não tem internet: meu spa. E assim vou seguindo. Nada de achar que as coisas não deram certo...Deram sim!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Isa. Obrigada pelas palavras. Depois vou escrever aqui o que eu acho que não deu certo. Novo texto em breve. Na verdade, talvez até tenha dado mas não do jeito que eu idealizei e que achei que com brilho no olhar conseguiria conquistar. O problema é que estou no país errado, que definitivamente jamais vai olhar para a educação como nós (você e eu) olhamos. Tenho que tentar me conformar um pouco mais para conseguir levar uma vida mais leve e menos sofrida internamente, mas tampouco acho que conseguirei isso. Minhas crises internas são cada dia maiores e o que o esporte hoje representa na minha vida é exatamente a maneira como encontrei para lidar com elas, minhas frustrações e angústias. Saudades. Vontade de te reencontrar. Beijos!

      Excluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Mitocôndria e algumas curiosidades, parte I

Imagens, palavras, sonhos, expressões, arte... A fotografia e o Vale do Jequitinhonha, partes essenciais da minha sensibilidade...

A Natação e o desafio de se vencer